domingo, 8 de maio de 2011

Alguma poesia...

Este relato é deveras curioso. É, também, envaidecedor, sem sombra de dúvida, na medida em que, tão singularmente, liga minha vida e meus escassos dotes literários a ninguém menos que Drummond. Sim, Carlos Drummond de Andrade...
Contemos logo como tudo se passou.
Corria o ano de 1984 e eu trabalhava, então, no Instituto de Ciências Exatas, da Universidade Federal de Minas Gerais. Desde os tempos de já saber-me gente, eu sempre gostei de ler — bom costume herdado do meu pai, Lourival Campos (minhas saudades e respeito, meu velho!) e aperfeiçoado com a virtude do meu irmão mais velho, Lourival Furtado Campos. De minha mãe, herdei (eu creio) — nunca em medida suficiente — o aprendizado do amor amoroso, servidor. Pois é preciso adjetivar, a modo de reforço garantidor, as virtudes mais essenciais, para que se saiba que, se não é, pode e presisa ser assim... Meu carinho, minha mãe!
O gosto pela leitura aconteceu-me, é visto, desde cedo. Mas, pela escrita só mais tarde ele se mostrou. De fato, na verdade, eu não me entendia bem com a coisa. As minhas redações de primeiro ao quarto ano do ginásio (naquele tempo era chamado assim) de costume recebiam a avaliação "fraca" ou "regular" e aquilo me entristecia, pois eu pressentia, mesmo timidamente, uma afeição pela escrita. Que, pelo relatado, não... decolava. Minha literatura escrita debutou algo tarde, na época do meu curso técnico, que se seguiu ao ginásio e antecedeu a universidade, primeira faculdade. E chegamos a 1984, ponto de começo.
Aos escritos de anos anteriores, acrescentei novos. O ano novo foi-me fácil em prosa e verso. Eu compilara quase uma centena de escritos e... achei-me, não mais que de repente, no querer enviá-los à apreciação dum escritor de verdade. Carlos Drummond de Andrade sempre me fascinou. Foi-me, pois, escolha natural. Precisava apenas enviar-lhe a encomenda pelos correios. Tudo cuidadosamente datilografado em máquina moderna, dotada de conjunto tipográfico de esfera, fotocópia feita e devidamente assinada, o pacote seguiu ao ilustre destinatário, com aviso de recebimento e tudo. A cartinha que, elegantemente, apresentava a obra, haveria de dizer tudo, justificá-la, enfim advogar seu mérito, tintim por tintim. E resposta boa havia de vir — naturalmente...: aprovação, elogio, coisas tais...
Veio a resposta. Mas, não veio aquela que eu desejava. Para minha tristeza na ocasião, ela continha apenas os lacônicos dizeres: "escrito normal, sem qualquer traço distintivo especial". "Como assim?!" — decepcionei-me — "como sem qualquer traço distintivo especial...? Logo eu, que me dediquei tanto a esta obra!" E não me conformei com aquela comedida, porém experiente e sincera avaliação.
Alguns meses se passaram e eu me dei conta de pelo menos duas preciosidades. Carlos Drummond de Andrade lera o meu escrito e nele apusera o seu selo! Seria até folclórico dizê-lo — o que ora faço — pois retrataria uma experiência de vida, uma ingênua, porém ousada, tentativa. "Se o Poeta disse que o meu escrito não tem valor... (ele não disse isso!), ora, ao menos ele foi um leitor privilegiado!" Direi melhor: privilegiante, pois o privilegiado fui eu. É fato que eu não tenho mais a cartinha-resposta de Carlos Drummond de Andrade, escrita com sua caligrafia, bem de lá de sua Copacabana. Nem ele está aqui que nos possa comprovar o acontecido, pois foi poetar noutros campos. Mas, creiam... é verdade verdadeira!